
Crianças pequenas podem aprender segunda língua?
Crianças pequenas podem aprender segunda língua?
As crianças podem aprender outra língua de maneira mais natural e eficiente do que os adultos. Existe um amplo conjunto de evidências mostrando que crescer com mais de um idioma não é problemático e pode ser vantajoso para muitas crianças. Estudos mostraram que por volta dos 30 meses de idade (2 anos e 6 meses), as crianças que têm pelo menos 60% de exposição ao inglês geralmente têm competência linguística semelhante a um falante nativo desta língua.
De acordo com muitos estudiosos, isso acontece devido à capacidade de aprender mais durante um período crítico do desenvolvimento. Esse período ocorre nos primeiros anos de vida, quando há maior plasticidade neuronal, ou seja, a aprendizagem ocorre de forma otimizada, uma vez que nosso cérebro se molda mais facilmente até a maturação dos padrões neurais.
Como o cérebro aprende duas línguas diferentes?
Como o cérebro aprende duas línguas diferentes?
Ainda não se sabe muito bem como o cérebro lida com a representação de duas línguas diferentes quando a criança é exposta no começo da vida, ou seja, no período crítico do desenvolvimento. Estudos com neuroimagem permitem mostrar padrões neurais diferentes de estímulos quando se aprende duas línguas em fases diferentes da vida. As evidências científicas sugerem que as crianças que aprendem duas línguas no início da vida têm as informações processadas simultaneamente na mesma área neurológica de linguagem, já em bilíngues tardios, aqueles que aprenderam a segunda língua na fase adulta, as informações são processadas em áreas neurais também dedicadas à linguagem, porém diferentes.
Aprender a segunda língua na infância é suficiente?
Aprender a segunda língua na infância é suficiente?
Se a criança não tiver experiências contínuas com as línguas, o aprendizado pode não se consolidar. Portanto, para manter o aprendizado em uma fase posterior da vida, a maturação neural e a experiência pessoal em línguas distintas devem atuar em conjunto, ou seja, a criança precisa utilizar ambas as línguas em diversos contextos sociais e por tempo prolongado.
Crianças que têm dificuldade na língua materna, como atraso ou trocas, podem aprender a segunda língua?
Crianças que têm dificuldade na língua materna, como atraso ou trocas, podem aprender a segunda língua?
Outros estudos mostraram que crianças que apresentam dificuldade na aquisição e desenvolvimento da língua materna, como atrasos de linguagem, trocas fonêmicas e problemas graves de linguagem como o TDL (transtorno do desenvolvimento de linguagem), podem ter prejuízo em ambas as línguas. Principalmente quando a língua falada em casa é diferente da língua utilizada na escola. Essas crianças podem apresentar baixo desempenho escolar com dificuldade na aquisição de vocabulário, no uso de regras gramaticais, na compreensão de leitura e no desenvolvimento da escrita; apresentando, neste caso, maior quantidade de erros ortográficos ou disgrafia.
Portanto, a família e os professores devem ficar atentos aos sinais de baixo desempenho escolar em crianças que cursam escolas bilíngues, a fim de evitar o desenvolvimento de alterações comportamentais e emocionais diante das dificuldades e da desvantagem em relação aos colegas.
Posso aprender uma segunda ou mais língua na adolescência ou na fase adulta?
A capacidade de aprender uma nova língua nunca é perdida! Independentemente da idade, o aprendizado ocorre, mas não com a mesma eficiência do início da vida, evidenciado principalmente pela persistência do “sotaque” da língua mãe. No entanto, o mesmo sistema de aprendizado deve ser utilizado, como o uso de informações auditivas e visuais, exposição à língua falada em contexto social e por longos períodos. Estudos recentes mostraram que o aprendizado de duas ou mais línguas na vida adulta pode prevenir problemas cognitivos da senilidade, como dificuldade de memória, velocidade de processamento de informações e problemas de atenção.
Vamos aprender outra língua?
Que maravilhoso é nosso cérebro!
Referências bibliográficas:
Referências bibliográficas:
- Bishop DVM, Snowling MJ, Thompson PA, Greenhalgh T, CATALISE consortium (2016) CATALISE: A Multinational and MultidisciplinaryDelphi Consensus Study. Identifying Language Impairments in Children. PLoS ONE 11(7): e0158753. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0158753
- Kandel ER et. al. Principios de Neurociências. 5o Edição. Editora Arte, 2014
Dra. Mônica Elisabeth Simons Guerra
Dra. Vanessa Magosso Franchi